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O Futuro da Eletrónica é Circular

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O nosso ritmo de consumo de eletrónica é insustentável. Smartphones, computadores e outros dispositivos são descartados a uma velocidade vertiginosa, criando montanhas de lixo eletrónico (e-lixo). Gera milhares de toneladas de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos todos os anos, mas a taxa de reciclagem não vai além de 14.5%, muito abaixo das metas europeias de 65%. Felizmente, está a emergir um novo paradigma: a economia circular, onde o reuso, a reparação e a recondição de dispositivos eletrónicos ganham centralidade. Impulsionada pelo re-commerce e pelo direito de reparar, esta mudança não é apenas uma tendência – é uma revolução que está a transformar a forma como compramos e usamos tecnologia.


O Re-commerce: Uma Alternativa Inteligente e Sustentável

O re-commerce, ou comércio eletrónico reverso, é a prática de comprar e vender produtos eletrónicos usados, mas que foram profissionalmente recondicionados. Em vez de um produto ter uma única vida útil, este processo dá-lhe uma segunda (e até terceira) oportunidade, prolongando a sua longevidade.

Em Portugal, este mercado está em crescimento, impulsionado por vários fatores:

  • Preços Competitivos: Produtos recondicionados, como smartphones e portáteis, são significativamente mais baratos do que os novos, tornando a tecnologia de ponta acessível a mais pessoas.
  • Confiança do Consumidor: O mercado já não se resume a plataformas de anúncios. Empresas especializadas oferece produtos recondicionados que passam por rigorosos testes de qualidade, têm garantia (por vezes de 2 vou 3 anos) e até permitem a devolução, o que aumenta a confiança do comprador.
  • Consciência Ambiental: O consumidor português está cada vez mais consciente do impacto das suas compras. Ao optar por um recondicionado, sabe que está a contribuir para a redução do e-lixo e para a diminuição das emissões de carbono associadas ao fabrico de novos dispositivos.


Em 2024/2025, os dados confirmam esta tendência:

  • 19,1% dos equipamentos adquiridos em Portugal já são recondicionados.
  • A plataforma Refurbed presente em Portugal desde junho de 2024, vendeu a 17 a 18 mil dispositivos recondicionados no primeiro ano, a cerca de 14 000 clientes.
  • Cerca de um em cada três clientes portugueses da Refurbed voltou a comprar na plataforma.
  • Estima-se que existe em Portugal 16.2 milhões de smartphones parados em gavetas, com potencial de gerar até 162 milhões de euros se integrados em programas de retoma ou recondição.
  • Um estudo da DECO/ERP (2025) revelou que 60% dos consumidores portugueses já compraram produtos em segunda mão, e 94% destes apontam razões económicas como principal motivação.
  • O contexto do comercio eletrónico também é favorável: em 2024, o e-commerce em Portugal movimentou 26 mil milhões de euros, com 48.9% dos portugueses a comprar online no último trimestre do ano


Este modelo está a criar um ecossistema em Portugal, com retalhistas, operadoras de telecomunicações e até fabricantes a lançarem os seus próprios programas de retoma (trade-in), incentivando os consumidores a entregarem os seus dispositivos antigos para serem recondicionados e vendidos de novo.


O Direito a Reparar: A Nova “Lei” do Consumidor

Até há pouco tempo, a reparação de eletrónicos era um desafio. A chamada obsolescência programada – onde os produtos são concebidos para durar um tempo limitado, o que tornava as reparações difíceis, caras e, muitas vezes, inviáveis.

Mas este cenário está a mudar graças à União Europeia. Aprovada em abril de 2024, a nova Diretiva do Direito à Reparação introduz várias medidas de impacto direto:

  • Obrigação dos fabricantes: terão de disponibilizar reparações a preços e prazos razoáveis, mesmo após o fim da garantia legal.
  • Acesso a peças e informação técnica: consumidores e oficinas independentes passam a poder obter peças sobresselentes, ferramentas e manuais de reparação.
  • Extensão da garantia: quando um consumidor opta por reparar o produto dentro do período de garantia, recebe automaticamente mais um ano adicional de cobertura.
  • Substituição por recondicionado: se a reparação não for possível, o consumidor pode exigir um bem equivalente recondicionado.


Portugal tem até 2026 para transpor esta diretiva para a legislação nacional. Isto somar-se-á à legislação já em vigor: o Decreto-Lei n.º 84/2021, que garante 3 anos de garantia legar para bens móveis.

 

O Impacto em Portugal: Desafios e Oportunidades

Portugal ainda enfrenta ainda grandes desafios:


Mas o mercado de e-commerce já mostra um claro interesse por eletrónicos. Com a crescente popularidade do re-commerce e a entrada em vigor do “Direito a Reparar”, estamos perante oportunidades enormes:



O Futuro é Circular

A revolução tecnológica já não depende apenas do lançamento de novos gadgets, mas da forma como prolongamos a vida útil dos que temos.

Portugal encontra-se no centro desta transformação: com um mercado de recondicionados em forte crescimento, uma diretiva europeia que fortalece o direito a reparar e um consumidor cada vez mais consciente, os alicerces para um futuro circular estão a ser construídos.

O próximo passo é claro: alinhar consumidores, empresas e políticas públicas para transformar o consumo de tecnologia em algo mais acessível, sustentável e durador.

O futuro é circular – e Portugal já está a abrir o caminho.


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